"Planto meu jardim e decoro minha alma! Ao inves de esperar que alguém me traga flores. E aprendi, que realmente posso suportar... Que realmente sou forte E que posso ir muito mais longe Mesmo depois de pensar que não posso mais." "Sinto o som do batuque nos meus ossos, o ritmo do batuque no meu sangue. É a voz da marimba e do quissange, que vibra e plange dentro de minh'alma, - e meus sonhos, já mortos, já destroços, ressuscitam, povoando a noite calma." Geraldo Bessa Victor, Angola
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Ritmos e Repertórios (2)
No rito angola a referência não é feita ao ekodidé‚ e sim ao nascimento do orixá, através do termo vunge (criança):
"Saki di lazenza é maió
Ê vunge ke sá"
(rito angola)
Após entrar no barracão, ao som de uma destas cantigas, o orixá é levado para o centro do recinto por um ebomi que toca o adjá. Os atabaques e as pessoas silenciarão e apenas o adjá será ouvido até que o orixá grite seu nome. Neste momento, numa espécie de "resposta" todos os orixás "virarão", gritando seus "ilás" e os atabaques recomeçarão a tocar, agora ao ritmo acelerado da vamunha.
Assim, os vários matizes da música acompanham as várias etapas do rito, sublinhando-as e estimulando uma empatia entre a subjetividade dos ouvintes e os acontecimentos cerimoniais.
Finalmente, a "saída do rum", ou saída "rica", pode ser feita ao som dessas cantigas:
“È, aun bó, ke wa ô, ke wa jô"
(rito Ketu)
"Kin kin maô
Ko ro wa ni xé ô
Agô, agô lonã
Agô lonã didê wa agô"
(rito Ketu)
"A ki memensuê
Xibenganga
Da muximba dunda
Meu ketendo iô
Xibenganga"
(rito angola)
Após as quais o orixá dançará as cantigas que lhe são especialmente atribuídas, o que é chamado "dar o rum no orixá". Terminando o rum, o orixá será retirado do barracão ao som de uma cantiga também apropriada para este momento de despedida:
"Aê iaô
guerê nu pa me vô
Guerê nu se be wá"
(rito Ketu)
Todavia, esta cantiga é reservada à despedida dos orixás das iaôs, como mostra a letra. Os ebomis terão seus orixás "retirados" do barracão ao som de outra cantiga, que faz referência ao status religioso do iniciado:
"Ebomi la urê
Ebomi la urê
Aê, aê, aê
Ebomi la urê"
(rito Ketu)
Com relação à ordenação feita pela música no toque como um todo, vemos que é durante o xirê que ela se evidencia, pois além de uma estrutura seqüencial da ordem das louvações (através de cantigas), o xirê denota, também, a concepção cosmológica do grupo. Por exemplo: muitas casas de ketu costumam seguir esta ordenação de orixás: Exu (porque é o intermediário entre os homens e os orixás), Ogun (a seguir, porque é o dono dos caminhos e dos metais e sem ele e suas invenções da faca e da enxada o sacrifício aos orixás e o trabalho na terra estariam impedidos; diz-se, também que é irmão de Exu); Oxossi (porque é irmão de Ogun e porque está ligado à sobrevivência através da caça e da pesca), Obaluaê (porque é o orixá da cura das doenças ou aquele que as traz), Ossain (dono das folhas que curam, daí sua ligação a Obaluaê e também porque nada se faz sem folhas no candomblé), Oxumarê (por sua ligação com Xangô, como escravo deste e como aquele que faz a ligação entre o céu e a terra), Xangô (deus do trovão e do fogo, trazido por Oxumarê), Oxum (esposa favorita de Xangô), Logun-Edé (o filho de Oxum com Oxossi), Iansã (que no mito criou Logun-Edé quando Oxum o abandonou), Obá (tida em muitas casas como irmã de Iansã e terceira mulher de Xangô), Nanà (a mais velha das iabás), Iemanjá (a dona das cabeças e esposa de Oxalá) e, finalmente, Oxalá, o senhor de toda a criação.
Algumas casas, entretanto, seguem outra ordem: Ogun, Oxóssi e Ossain (são irmãos) Obaluaê, Ewá, Oxumarê e Nanã (três irmãos e sua mãe tidos como de "nação" jeje), Oxum, Logun-Edé, Iansã e Obá (pelos mesmos motivos da ordem anterior), Xangô e Iemanjá (filho e mãe) e, por fim, Oxalá. Esta seqüência parece privilegiar os vínculos de parentesco e de "nação", enquanto a primeira privilegia os acontecimentos míticos que colocam em relação os orixás. Seja qual for a seqüência e sua concepção cosmológica, ela costuma ser fixa para cada casa. É ela que, de alguma forma norteia os acontecimentos do toque, fazendo, entre outras coisas, com que os adeptos observem, através das músicas, os momentos apropriados ao cumprimento da etiqueta religiosa como, por exemplo, pedir a bênção ao pai-de-santo quando se toca para o orixá deste.
Num toque comum, é costume cantarem-se de três a sete cantigas para cada orixá. Entretanto, em alguns casos, é possível que os ogãs, ou o pai-de-santo, cantem uma "roda de Xangô", que consiste em "puxar" (cantar) uma seqüência pré-estabelecida de cantigas deste orixá. Neste caso, é comum que o pai-de-santo entregue aos ebomis de Xangô o xere, que estes deverão tocar, provocando a vinda dos orixás de todos os filhos. Os abiãs costumam bolar neste momento e ficarão no chão até que seja possível tocar a vamunha para retirá-los. Em outros casos os orixás "viram" durante o transcorrer do xirê, seja em sua cantiga ou em qualquer outro momento do toque.
Cantando para Exu, o toque começa pelo padê, como já dissemos e, geralmente, com esta cantiga:
"Embarabó, agô mojubá
Embarabó, agô mojubá
Omodé coecó
Exu Marabó, agô mojubá
Lebara Exu onã”
(rito Ketu)
No rito angola, estas três cantigas são sempre cantadas dando início ao padê e na seguinte ordem:
(1a)
"Ê gira gira mavambo
Recompenso ê ê ê
Recompenso a"
(2a)
“Exu apavenã”.
Exu apavenã
Sua morada auê"
(3a)
"Bombogira ke ja ku janje
Bombogira ja ku janjê
Airá o lê lê"
(rito angola)
Ou, ainda, fazendo uma clara alusão ao convite para aceitar a oferenda, que caracteriza a cerimônia:
"Aluvaiá vem tomá xoxô
Aluvaiá vem tomá xoxô"
(rito angola)
Ou ainda:
"Sai-te daqui Aluvaiá
Que aqui não é o teu lugar
Aqui é uma casa santa
É casa dos orixás"
(rito angola)
Encerrado o padê, as cantigas devem acompanhar as próximas etapas, ainda propiciatórias ao bom andamento do toque. No rito angola segue-se à "limpeza" do ambiente com pemba (pó de giz branco) ou ainda pólvora:
"O kipembê,
o kipembe ewiza
kassange ewiza
d'angola
o kipembê
samba d'angola"
(rito angola)
"Pemba eu akassange apogondê
Pemba eu akassange apogondê
Pemba eu akassange apogondê
Oi kipembê"
(rito angola)
No rito ketu a cerimônia da pemba e da pólvora não ocorre. Em algumas casas, em lugar dela procede-se à cerimônia dos cumprimentos, quando se canta uma das seguintes cantigas:
"Olorum pa vô dô
Axé‚ ori, axé, orixá"
(rito ketu)
"(orixá) mojubá ô
Ibá orixá, ibá onilê"
(rito ketu)
No caso da segunda cantiga, será trocado o nome do orixá conforme o patrono da casa.
Daí por diante a música prossegue dividindo o "tempo" do toque em segmentos precisos, de convergência das louvações a cada orixá, da dança, das atitudes de maior ou menor empatia dos participantes, enfim, em "blocos" que, somados, recompõem a "vida" dos orixás na voz de seus filhos. Assim, é comum ouvirmos referências ao andamento do toque em termos do "tempo musical" do xirê: "Fulano chegou atrasado. O toque já estava em Iemanjá".
Quando o motivo do toque é uma festa, essa festa é intercalada na estrutura do xirê, ou seja, é costume levar o xirê até o momento em que se canta para o orixá festejado, quando este "vira" e é levado para vestir, ao som da vamunha. Pode haver (ou não) um intervalo para o descanso dos alabês, até que o orixá volte agora paramentado, sendo recebido com a cantiga:
"Agô, agô lonã
Agô lonã didê wa mo dagô"
(rito ketu)
"Toté, toté de maiongá
Maiongonguê"
(rito angola)
No barracão, o orixá dançará, então, ao som de seus ritmos favoritos. Uma vez encerrados os acontecimentos relacionados à comemoração, a seqüência do xirê é imediatamente retomada do exato ponto onde havia sido interrompido, devendo-se cantar para Oxalá apenas quando não estiver prevista mais nenhuma cerimônia, pois, cantar para Oxalá significa "fechar o toque".
Encerrado o xirê, segue-se o ajeum (refeição), apresentado com a cantiga:
"Ajeun, ajeun, ajeun, ajeun bó"
(rito ketu)
Findo o toque, de modo significativo, os atabaques são cobertos por um pano branco, indicando que o fim da música é o fim da festa e que, sendo os atabaques criadores e sacralizadores da música, mesmo durante os momentos em que não são usados devem indicar esta condição, permanecendo sob a proteção de Oxalá.
AYÉ - conjunto das forças do bem e do mal
Homenagem de Carmen à Carmen
Feiticeiro Negro
Para mim tu és Gabriel o enviado dos seres encantados que veio à terra no seio da minha família fortalecer o amor e a espiritualidade em nossos caminhos.Amor mágico de sorriso encantado obrigado por alegrar os dias e noites dessa minha existência tú és fruto do meu fruto e abençoado sejas sempre.ti amo bjs mágicos
Nenhum comentário:
Postar um comentário