"Planto meu jardim e decoro minha alma! Ao inves de esperar que alguém me traga flores. E aprendi, que realmente posso suportar... Que realmente sou forte E que posso ir muito mais longe Mesmo depois de pensar que não posso mais." "Sinto o som do batuque nos meus ossos, o ritmo do batuque no meu sangue. É a voz da marimba e do quissange, que vibra e plange dentro de minh'alma, - e meus sonhos, já mortos, já destroços, ressuscitam, povoando a noite calma." Geraldo Bessa Victor, Angola
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
LENDAS DE EWÁ
Ewá é escondida por seu irmão Oxumaré
Filha de Nanã também é Ewá. Ewá é o horizonte, o encontro do céu com a terra. É o encontro do céu com o mar. Euá era bela e iluminada, mas era solitária e tão calada. Nanã, preocupada com sua filha, pediu a Orunmilá que lhe arranjasse um amor, que arranjasse um casamento para Ewá. Mas ela desejava viver só, dedicada à sua tarefa de fazer criar a noite no horizonte, mandando sol com a magia que guarda na cabeça adô. Nanã porém, insistia em casar a filha.
Ewá pediu então ajuda a seu irmão Oxumarê. O Arco-Íris escondeu Ewá no lugar onde termina o arco de seu corpo. Escondeu Ewá por trás do horizonte e Nanã nunca mais pôde alcançá-la. Assim os dois irmãos passaram a viver juntos, lá onde o céu encontra a terra. Onde ela faz a noite com seu adô.
Ewá livra Orunmilá da perseguição da morte.
Orunmilá era um babalaô que estava com um grande problema. Orunmilá estava fugindo da morte, de Icu, que o queria pegar de todo jeito. Orunmilá fugiu de casa para se esconder. Correu pelos campos e ela sempre o perseguia obstinado. Correndo e correndo, Orunmilá chegou ao rio. Viu uma linda mulher lavando roupa. Era Ewá lavando roupa junto à margem. ”Por que corres assim, senhor? De quem tentas escapar?” Orunmilá só disse: ”hã, hã”. Foges da morte? Adivinhou Ewá. ”Sim”, respondeu ele.
Ewá então o acalmou. Ela o ajudaria. Ewá escondeu Orunmilá sob a tábua de lavar roupa, que na verdade era um tabuleiro de Ifá, com fundo virado para cima.E continuou lavando e cantando alegremente. Então chegou Icu, esbaforida. Feia, nojenta, moscas envolvendo-lhe o corpo, sangue gotejando pela pele, um odor de matéria putrefata empestando o ar. A morte cumprimentou Ewá e perguntou por Orunmilá. Ewá disse que ele atravessara o rio e que àquela hora devia estar muito, muito longe, muito alem de outros quarenta rios.
Ewá tirou Orunmilá de sob a tábua e o levou para casa são e salvo. Preparou um cozido de preás e gafanhotos servido com inhames bem pilados. À noite Orunmilá dormiu com Ewá e Ewá engravidou. Ewá ficou feliz pela sua gravidez e fez muitas oferendas a Ifá. Ewá era uma mulher solteira e Orunmilá com ela se casou. Foi uma grande festa e todos cantavam e dançavam. Todos estavam felizes. Ewá cantava: ”Orunmilá me deu um filho”. Orunmilá cantava: ”Ewá livrou-me da morte”. Todos cantavam: ”Ewá livra de Icu”. Todos cantavam: ”Ewá livra de Icu”.
Ewá se desilude com Xangô e abandona o mundo dos vivos.
Ewá filha de Obatalá, vivia enclausurada em seu palácio. O amor de Obatalá por ela era possessivo. A fama de sua beleza chegava a toda parte, inclusive aos ouvidos de Xangô. Mulherengo como era Xangô planejou seduzir Ewá. Empregou-se no palácio para cuidar dos jardins. Um dia Ewá apareceu na janela e deslumbrou-se com o jardineiro. Ewá nunca vira um homem assim tão fascinante.
Xangô deu muitos presentes a Ewá. Deu-lhe uma cabaça enfeitada com búzios, com uma obra por fora e mil mistérios por dentro, um pequeno mundo de segredos, um adô. E Ewá entregou-se a Xangô. Ele fez Ewá muito infeliz até que ela renegou sua paixão.
Decidiu se retirar do mundo dos vivos e pediu ao pai que a enviasse a um lugar distante, onde homem algum pudesse vê-la novamente. Obatalá deu então a Ewá o reino dos mortos, que os vivos temem e evitam. Desde então é ela quem domina o cemitério. Ali ela entrega a Oyá os cadáveres dos humanos, os mortos que Obaluaê conduz a orixá Oco, e que orixá Oco devora para que volte novamente a terra, terra de Nanã de que foram um dia feitos. Ninguém incomoda Ewá no cemitério.
Notas bibliográficas
Mitologia dos Orixás - Reginaldo Prandi - 2001
sábado, 27 de dezembro de 2008
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Iyami,meu respeito,minha mãe e senhora
(Do livro “Mural dos Orixás” de Caribé e texto de Jorge Amado - Raízes Artes Gráficas)
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Exú leva aos homens o Oráculo de Ifá-Lenda
Em épocas remotas os deuses passaram fome. Às vezes, por longos períodos, eles não recebiam bastante comida de seus filhos que viviam na Terra.
Os deuses cada vez mais se indispunham uns com os outros e lutavam entre si guerras assombrosas. Os descendentes dos deuses não pensavam mais neles e os deuses se perguntavam o que poderiam fazer. Como ser novamente alimentados pelos homens? Os homens não faziam mais oferendas e os deuses tinham fome. Sem a proteção dos deuses, a desgraça tinha se abatido sobre a Terra e os homens viviam doentes, pobres, infelizes.
Um dia Exu pegou a estrada e foi em busca de solução. Exu foi até Iemanjá em busca de algo que pudesse recuperar a boa vontade dos homens. Iemanjá lhe disse: "Nada conseguirás. Xapanã já tentou afligir os homens com doenças, mas eles não vieram lhe oferecer sacrifícios".
Iemanjá disse: "Exu matará todos os homens, mas eles não lhe darão o que comer. Xangô já lançou muitos raios e já matou muitos homens, mas eles nem se preocupam com ele. Então é melhor que procures solução em outra direção. Os homens não têm medo de morrer. Em vez de ameaçá-los com a morte, mostra a eles alguma coisa que seja tão boa que eles sintam vontade de tê-la. E que, para tanto, desejem continuar vivos".
Exu retornou o seu caminho e foi procurar Orungã.
Orungã lhe disse: "Eu sei por que vieste. Os dezesseis deuses têm fome. É preciso dar aos homens alguma coisa de que eles gostem, alguma coisa que os satisfaça.. Eu conheço algo que pode fazer isso. É uma grande coisa que é feita com dezesseis caroços de dendê. Arranja os cocos da palmeira e entenda seu significado. Assim poderás conquistar os homens".
Exu foi ao local onde havia palmeiras e conseguiu ganhar dos macacos dezesseis cocos. Exu pensou e pensou, mas não atinava no que fazer com eles. Os macacos então lhe disseram: "Exu, não sabes o que fazer com os dezesseis cocos de palmeira? Vai andando pelo mundo e em cada lugar pergunta o que significam esses cocos de palmeira. Deves ir a dezesseis lugares para saber o que significam esses cocos de palmeira. Em cada um desses lugares recolheras dezesseis odus. Recolherás dezesseis histórias, dezesseis oráculos. Cada história tem a sua sabedorias, conselhos que podem ajudar os homens. Vai juntando os odus e ao final de um ano terás aprendido o suficiente. Aprenderás dezesseis vezes dezesseis odus. Então volta para onde moram os deuses. Ensina aos homens o que terás aprendido e os homens irão cuidar de Exu de novo".
Exu fez o que lhe foi dito e retornou ao Orun, o Céu dos Orixás. Exu mostrou aos deuses os odus que havia aprendido e os deuses disseram: "Isso é muito bom".
Os deuses, então, ensinaram o novo saber aos seus descendentes, os homens. Os homens então puderam saber todos os dias os desígnios dos deuses e os acontecimentos do porvir. Quando jogavam os dezesseis cocos de dendê e interpretavam o odu que eles indicavam, sabiam da grande quantidade de mal que havia no futuro. Eles aprenderam a fazer sacrifícios aos Orixás para afastar os males que os ameaçavam. Eles recomeçavam a sacrificar animais e a cozinhar suas carnes para os deuses. Os Orixás estavam satisfeitos e felizes. Foi assim que Exu trouxe aos homens o Ifá.
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Um Babalaô me contou
"Antigamente, os orixás eram homens.
Homens que se tornaram orixás por causa de seus poderes.
Homens que se tornaram orixás por causa de sua sabedoria.
Eles eram respeitados por causa de sua força,
Eles eram venerados por causa de suas virtudes.
Nós adoramos sua memória e os altos feitos que realizaram.
Foi assim que estes homens tornaram-se orixás.
Os homens eram numerosos sobre a Terra.
Antigamente, como hoje,
Muitos deles não eram valentes nem sábios.
A memória destes não se perpetuou
Eles foram completamente esquecidos;
Não se tornaram orixás.
Em cada vila, um culto se estabeleceu
Sobre a lembrança de um ancestral de prestígio
E lendas foram transmitidas de geração em geração para render-lhes homenagem".
Como nasceu Orí
ORI em iorubá significa CABEÇA. O Ori está acima dos Orixás, pois nenhum Orixá, nem mesmo Olodumare atenderá um pedido do ser humano, que não tenha sido autorizado por seu Ori.
Conta a lenda que os Orixás e Ancestrais se rebelaram, querendo ter os poderes e a sabedoria do Deus supremo. Como mensageiro nomearam Exu, que levou as reivindicações a Olodumare. Este lhes enviou um poderoso obi, e, orientado por Ifá, determinou que após deixá-lo a noite inteira numa encruzilhada, os Orixás e Ancestrais deveriam tentar parti-lo para mostrar seu poder.
Ori era apenas uma pequena bola, que não possuía sequer um corpo para se apoiar, e ninguém o respeitava. Para conseguir partir o obi, procurou Ifá, que o aconselhou a fazer uma oferenda para os Odus, para conseguir a força de todos eles. Além disso, deveria espojar-se na poeira do chão por algumas horas.
No dia seguinte todos já estavam preparados para tentar partir o obi, quando chegou Ori, espojando-se na poeira. Um a um os Orixás foram fracassando na tentativa, pois o obi era muito forte e resistente.
Ori se apresentou e, como última opção, deixaram-no tentar. Com seu peso caiu sobre o obi, que se partiu em seis gomos. Todos ficaram muito felizes.
Olodumare, ao receber a notícia, imediatamente enviou uma linda almofada, onde Ori se instalou. Dessa forma Ori ganhou um corpo para sustentá-lo. Orixás e Ancestrais exclamaram: ORI APERE!
A partir desse momento, Ori nasceu. Passou a ser dotado de Iwa, a existência, dada por Olodumare, como prêmio por ter sido o único a conseguir partir o fruto-ventre.
domingo, 21 de setembro de 2008
Sábias palavras
Bem Vindos!
“Acredito na verdade fundamental de todas as grandes religiões do mundo. Acredito que todas elas foram inspiradas por Deus, e que eram necessárias para os povos a quem foram reveladas. Se pudéssemos ler as escrituras das diversas religiões com a cultura dos seguidores daquelas religiões, chegaríamos à conclusão que todas elas estão de acordo nos seus princípios básicos e que são úteis para todos.”
(Gandhi)
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Oração de Tranca Rua
Faço reverência a vós mistério sagrado da criação, vós que sois a manifestação do divino, peço que possa se manifestar entre nós, conforme nosso merecimento. No seu poder, na sua força, e na sua magnitude, pelo caminho tri polar que emana de vós, pelo caminho que só vós conheceis, pela força que só a vós pertenceis, e pelo poder de trancar a vós concedido, eu peço:
Que as trevas que habitam em mim sejam trancadas.
Que o ódio e o sentimento impuro, que emanam da minha alma, sejam trancados.
Que a falsidade que exala dos meus poros seja trancada.
Que o rancor e a miséria que habitam o meu coração sejam trancados.
Que a dissimulação e a superficialidade, que nasce da minha língua, sejam trancadas.
Que o egoísmo e a maldade, que transcendem da minha mente, sejam trancados.
Que a palavra torta que sai da minha boca e o pensamento roto que sai da minha cabeça contra o próximo, sejam trancados.
Que a capacidade que os meus olhos têm de amaldiçoar e destruir sejam trancados.
E assim, fonte primária da criação, assim que trancar a tudo isso no seu âmago, pois é na vossa essência que tudo isso se desvitaliza, peço a vós que:
Destranque todas as portas do meu caminho.
Destranque todas as passagens da minha jornada.
Destranque toda prosperidade material e espiritual.
Destranque o meu coração das amarguras.
Destranque o meu sustento de cada dia.
Destranque os meus corpos espirituais e o meu corpo material da agonia, do desespero e da aflição que me assolam na calada da noite.
Destranque o meu emprego, o meu negócio e a minha morada material.
Destranque o martírio familiar pelo qual eu tenho passado.
Destranque os meus olhos para as maravilhas do mundo espiritual.
Destranque a minha liberdade!
Pois vós, Força Sagrada do Divino Criador, é o portador supremo da Vitalidade!
Salve o Mistério Tranca-Ruas!
Laroiê!
Autor: Adelaide Scritori
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Origem do Bate Folha Bahia
Terreiro Bate Folha, Mansu Banduquenqué, Sociedade Beneficente Santa Bárbara do Bate Folha, localizado na Travessa de São Jorge, 65 - Mata Escura do Retiro, Salvador, Bahia, foi fundado em 1916 pelo Tata Manoel Bernardino da Paixão e, atualmente, é presidido por Tata Mulandure, Edualino Cipriano de Souza. O terreiro possui a maior área urbana remanescente da Mata Atlântica, aproximadamente 15,5 hectares. Foi tombado pelo IPHAN em 10 de outubro de 2003.
Origem do Bate Folha da Bahia
No ano de 1881, Salvador, Bahia, nasceu Manuel Bernardino da Paixão. Quando já contava 38 anos de idade, Bernardino foi iniciado na Nação do Congo pelo Muxikongo (designação dos naturais do Kongo), por Manuel Nkosi, sacerdote iniciado na África, recebendo então, a dijína de Ampumandezu.
Depois da morte de Manuel Nkosi, Bernardino transferiu-se para a casa de sua amiga inseparável Maria Genoveva do Bonfim - Mam´etu Tuhenda Nzambi, mais conhecida como Maria Nenem, mãe do Angola na Bahia, onde tirou a Maku-a-Mvumbi (Mão do Morto).
Maria Nenem era filha de santo de Roberto Barros Reis, escravo angolano, de propriedade da família Barros Reis, que lhe emprestou o nome pelo qual era conhecido. A cerimônia de Maku-a-Mvumbi, à qual Bernardino se submeteu em 13 de junho de 1910, coincidiu com a iniciação de Manoel Ciriaco de Jesus, nascido em Oito de agosto de 1892, também na Bahia, o que ocasionou a ligação estabelecida entre Bernardino e Ciriaco que, anos mais tarde, com o falecimento de seu irmão de santo mais velho, Manuel Kambambi, que na época tinha casa aberta na Bahia, Ciriaco sucedeu kambambi, no terreiro que hoje é conhecido por Tumba Junsara.
Com o passar do tempo, Bernardino já muito famoso, fundou o Candomblé Bate-Folha, situado na Mata Escura, em Salvador, Bahia. O terreno onde está estabelecido o Candomblé, é cercado de árvores centenárias e considerado o maior terreiro do Brasil que, na época, foi presenteado à Bamburusema, seu segundo mukixi, já que o primeiro era Lemba.
Desta forma fica claro que, pelas origens de Manuel Nkosi, o Bate-Folha é Congo e, mantém o Angola, por parte de Maria Nenem.
Foi no dia Quatro de dezembro de 1929 que Bernardino tirou seu primeiro barco, cujo Rianga (1º Filho da casa) foi João Correia de Mello, que também era de Lemba.
Raíz do Bate Folha da Bahia
• Manuel Nkosi - Nação Congo
• Maria Nenem - Nação Angola
• Manuel Bernardino da Paixão - 1916-
o João Lessengue - Rio de Janeiro
• Tata Mulandure -
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Os Nkises
Lembá Dilê, Lembarenganga, Jakatamba, Kassuté Lembá, Gangaiobanda.
Nkise da criação, ora apresenta-se como jovem guerreiro, ora como velho curvado.
Está ligado à criação do mundo. Quando jovem tem como cores o branco e o azul, ou branco e prata, quando de idade avançada, apenas o branco, sua saudação: Kalaepi Sakula
Lemba Dilê - Pembele (Quieto Ai Vem o Senhor da Paz - Eu te Saudo)
Zambi, Zambiapongo.
Não se trata de um Nkise, mas sim do Deus Supremo, o grande criador.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
Candomblé de Angola
Religião afro-brasileira, de origem banta, que compreende as nações de Angola e Congo (Cassanges, Kikongos, Kimbundo, Umbundo e Kiocos), e se desenvolveu entre os escravos africanos que falavam a linguagem Kimbundo e Kikongo e são facilmente reconhecidos pela maneira diferente de cantar, dançar e percutir seus tambores.
Na hierarquia de Angola o cargo de maior importância é para homem Tata Nkisi (tata de inquinces) e para mulher Mametu Nkisi (Mametu de inquices), que correspondem ao Babalorixá e a Yalorixá dos Yorubás, e o Deus supremo é Zambi (Nzambi) ou Zambiapongo (Ndala Karitanga). O Candomblé de Caboclo é uma modalidade desta nação, e cultua os antepassados indígenas. Há uma nação que faz parte do Batuque do Rio Grande do Sul que descende de Angola, que é a Cabinda.
Os rituais da nação Angola começam com o Massangá, que é o batismo na cabeça do iniciado, feito com água doce e Obi; Bori com sacrifício de animais para o uso do sangue (menga); ritual de raspagem, conhecido como feitura de santo; ritual de obrigação de 1 ano; ritual de obrigação de 3 anos, onde muda o grau de iniciação; ritual de obrigação de 5 anos, com o uso de frutas, obrigação de 7 anos, quando o iniciado recebe seu cargo, é elevado ao grau de Tata Nkisi (zelador) ou Mametu Nkisi (zeladora). Após sete anos de obrigações, será renovado a cada ano com o rito de Obi ou Bori, conforme o caso, e de sete em sete anos se repete as obrigações para conservar o individuo forte, se transformando em Kukala Ni Nguzu, que quer dizer um ser forte. Além dos búzios, outro sistema antigo de consulta é o Ngombo, no qual o adivinhador recebe o nome de Kambuna.
Os principais Nkisi são: Aluvaiá (também conhecido como: Nkuyu Nfinda, Tata Nfinda, Tona e Cubango), Bombo Njila(Bombojira), Vangira(feminino), Pambu Njila, Pambuguera; Nkisi Nkosi Mukumbe, Roxi Mukumbe, Burê; Nkisi Kabila, Mutalambô, Gongobila, Lambaranguange; Nkise Katendê; Nkisi Zaze (Nsasi, Mukiamamuilo, Kibuco, Kiassubangango) Loango; Nkisi Kaviungo ou Kavungo, Kafungê; Nkise Angorô e Angoroméa; Nkisi Kitembo ou Tempo; Nkisi Tere-Kompenso; Nkisi Matamba, Bamburussenda, Nunvurucemavula; Nikisi Kisimbi, Samba; Nkisi Kaitumbá, Mikaiá; Nkisi Zumbarandá; Nkise Wunge; Nkisi Lembá Dilê, Lembarenganga, jakatamba, Kassuté Lembá, Gangaiobanda; Nkisi Nwunji, Nkisi Kaitumbá, Mikaiá, Kukueto; Nkisi Ndanda Lunda; Nkisi Kaiangu; Kariepembe, Pungu Wanga; Kobayende; Pungu Kasimba; Nkita Kiamasa; Nkita Kuna; Lukankazi, Luganbe, Nzambi Bilongo; Mutalambô, Katalombô, Gunza, Nkuyo Watariamba.
Os cargos e divisão do poder espiritual são:
Mam’etu ria Mukixi - Sacerdotisa chefe (Angola)
Nengua ia Nkisi - Sacerdotisa chefe (Congo)
Tat’etu ria Mukixi - Sacerdote chefe (Angola)
Dise ia Nkisi - Sacerdote chefe (Congo)
Tata Kivonda - Pai sacrificador de animais (Congo)
Kambodu Pokó - Sacrificador de animais (Angola)
Muxikiangoma - Tocador de atabaque
Njimbidi - Cantador (Angola)
Ntodi - Cantador (Congo)
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
Lenda de Exú Jelu(Ijelu ou Ajelu)
domingo, 10 de agosto de 2008
Homenagem à Oxossi
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Seja Bem Vindo!
Esú, Mensageiro Divino, Esu Odara, Mensageiro Divino de Transformação, Esu lanlu ogirioko. Mensageiro Divino fala com poder. Okunrin ori ita, Homem das encruzilhadas A jo langa langa lalu. Dance ao tambor. A rin lanja lanja lalu. Titile o dedo do pé do tambor. Ode ibi ija de mole. Mova além de discussão. Ija ni otaru ba d'ele ife. Discussão está ao contrário do espírito de Céu. To fi de omo won. Una os pés instáveis de desmamar as crianças. Oro Esu to to to akoni. A palavra do Mensageiro Divino sempre é respeitada. Ao fi ida re lale. Nós usaremos sua espada para tocar a Terra. Esu ma se mi o. Mensageiro Divino não me confunde. Esu ma se mi o. Mensageiro Divino não me confunde. Esu ma se mi o. Mensageiro Divino não me confunde. Omo elomiran ni ko lo se. Deixe outra pessoa seja confundido. Pa ado asubi da. Vire meu sofrimento. No ado asure si wa. Me dê a bênção do calabaça. Ase. Assim seja.
Poema de Exu - Jorge Amado
Exu Orixa,Orixa Exu
Princípio dinâmico e princípio da existência individualizada, Exú não pode ser isolado ou classificado em nenhuma das categorias. Ele é como o axé (que ele representa e transporta), participa forçosamente de tudo. Segundo Ifá cada um tem seu próprio exú e seu próprio Olorún em seu corpo. O nome de exú é conhecido, invocado e cultuado junto ao orixá. E é Ifá quem revela e permite-nos sabê-lo.
Quem delegou esse poder à exú foi Olorún ao entregar-lhe o àdó-iràn , a cabaça que contém a força que se propaga. Esta cabaça está presente em seus "assentos", é uma cabaça de pescoço grande, e basta exú apontá-la a algo para transmitir seu axé.
O Òkòtó representa o crescimento Agbárá - poder que permite a cada um se mobilizar e desenvolver suas funções e seus destinos. Por isso recebe o título de Elegbára (senhor do poder).
Oxé-tuwá, representante direto de exú, simboliza um de seus aspectos mais importantes, o de ser encarregado e transportador das oferendas, Òjise-ebo.
Exú Elegbára = senhor do poder...Conhecido como Elegbára (ele=dono, senhor ; agbara=poder), contém muitas definições e funções. É o companheiro de Ogum.
Exú Yangi = pedra vermelha de laterita, pedaços de laterita cravados na terra, indicam o lugar de culto à Exú. Yangi é a representação mais importante de Exú e, é assim invocado:
EXÚ YANGI OBÁ BABÁ EXÚ
EXÚ YANGI rei, pai de todos os Exú.
Exú Yangi é o Exú ancestre, o Exú Agbá.
Exú Àgbá = pai-ancestre (representação coletiva de todos os exús individuais)
Exú Obá - rei-de-todos
Exú Alakétu = título dado a exú pelos kétu da Bahia - rei do povo Kétu -
Exú Elebo = senhor-das-oferendas
Exú Ojìse-ebo = encarregado-e-transportador de oferendas
Exú Elérú = senhor do erú (carrego)
Exú Olòbe = proprietário e senhor da faca
Exú Enú-gbárijo = explicitador de mensagens
Exú Bara = o rei do corpo (obá + ara) (princípio de vida individual)
Exú Odara = aquele que guia (mostra o caminho, vai na frente)
Exú por ser resultado da interação de um par, é o portador mítico do sêmen e do útero ancestral e como princípio de vida individualizada ele sintetiza os dois, É por isso que frequentemente, e, é representado pela forma de um par, uma figura masculina e uma feminina, unidos por fileiras de búzios. Exú está profundamente ligado à atividade sexual. Representados por um falo (pênis), ou suas representações simbólicas como: os penteados de forma fálica, sua arma, o ogó - bastão em forma de pênis -, sua lança; já as cabacinhas representam seus testículos.
Exú também está representado com objetos à sua boca; dedo, cachimbo e principalmente flauta, que vem representar a atividade sexual, como absorção e expulsão, ingestão e restituição, com a flauta Exú chama seus descendentes. Portanto símbolo por excelência da fecundidade. Exú jamais toma a forma de procriador. Exú é cultuado tanto como lésè-égún, como lésè-orixá, e apenas por seu intermédio é possível cultuar os orixás e as Iyá-mi (mãe ancestre). Não é apenas Òjisé-ebo, mas principalmente Òjisé, o mensageiro, fazendo a comunicação entre tudo que é oposto.
Com efeito a relação entre Exú e Ifá, é indiscutível, e Exú está representado em um dos principais emblemas característicos do culto à Ifá , o òpón, onde Exú tem sua representação em forma de rosto, de triângulos e losangos. É no seu papel de princípio dinâmico, de princípio de vida individual e de Òjise ou elemento de comunicação, que Exú Bará está indissoluvelmente ligado à evolução e ao destino de cada indivíduo. Como tal ele também é senhor dos caminhos Exú Olònà, e ele pode abri-los ou fechá-los.
Exú fica à esquerda dos caminhos. O elemento procriado, é a prova do poder das Iyá-mi, é o pássaro, o Elèye. Exú foi o primeiro a usar ekódide (pena de uma espécie de papagaio) na cabeça, e foi isto que o tornou decano de todos os orixás. Alguém que coloca ekódide na cabeça sem necessidade, provoca a cólera de Exú.
Enganosamente ou mal intencionados, os primeiros missionários que chegaram à África, compararam-no ao diabo, por algumas de suas formas, artimanhas e poderes atribuídos. Ele tem as qualidades dos seus defeitos, pois é dinâmico e jovial, havendo mesmo pessoas na África que usam orgulhosamente nomes como Èxúbíyìí (concebido por exú), ou Èxùtósìn (Exú merece ser adorado).
Como personagem histórica, Exú teria sido um dos companheiros de Odùduà, quando da sua chegada à Ifé, e chamava-se Exú Obasin. Tornou-se mais tarde, um dos assistentes de Orúnmilá, que preside a adivinhação pelo sistema de Ifá. Segundo Epega, Exú, tornou-se rei de Kêto sob o nome de Exú Alákétu. É Exú que supervisiona as atividades do rei em cada cidade: o de Oyó é chamado Exú Akesan.
Como orixá, diz-se que veio ao mundo com um porrete, chamado, ogó, que teria a propriedade de transportá-lo, a centenas de quilômetros e de atrair, por um poder magnético, objetos situados a distâncias igualmente grandes.
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Desejo Cigano
Cigano de olhar tristonho e febril. Vulto adorado nas noites de insônia… Teus carinhos lembram a cachoeira… Debruçada… sobre a bela begônia…
Cigano meu, misto de deus e duende, Mistério que não acaba e me prende… É teu meu pensamento, meu corpo… Sou feliz assim, cativa… dessa corrente…
De ti respiro… bebo vida… energia… Me perco e me encontro em teu corpo. Na dança sutil exalando perfume, paixão. Vinte e quatro horas de amor… é pouco!
Cigano meu, quente, de peito macio… Quero beber o prazer na tua taça… Rodopiar, girar, bailar no teu arrepio… Dar continuidade à nossa bela raça!…
Vem cigano meu, me abraça, me caça!Sou tua para sempre, de graça!…
Poesia sobre a lenda de Oxóssi
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Minha homenagem
..Exu Mulher Maria Mulambo, você que me acompanha , me ajudando nos momentos mais difíceis e aparentemente sem solução, aceite esta pequena homenagem que fiz com muito amor. Podem dizer que você é farrapo, gosta do lixo e tudo o mais, mas eu sei que sem você a minha vida não teria sentido. A sua missão é esta: tratar do lixo espiritual em que a maioria das pessoas vive ,curar a depressão e fazer os humanos acreditar em si mesmos, em sua potencialidade. Este é o seu fundamento. Para isto você foi criada. Laroiê mulher Maria Mulambo!...
Hoje minha rainha está em festa!
Maria Mulambo,a deusa encantada
Eu a quero não apenas pelo que você é, mas pelo que sou quando estou com você. Eu a respeito não apenas porque você faz por mim, mas pelo que faz por todos. Eu a respeito porque sabes ensinar o certo e o errado, porém nunca me recriminou pelos erros, apenas soube corrigi-los. Mulambo através de você é que peço a abertura de todos os caminhos, e saída de todos os problemas as pessoas que vêem ao seu auxílio.
terça-feira, 24 de junho de 2008
Banhos energéticos
Os banhos energéticos são muito utilizados para ajudar na limpeza de nossa aura e para atrair bons fluidos em situações específicas. Protegem contra forças negativas, nos auxiliam na abertura de nossos caminhos financeiros, amorosos, na nossa saúde, enfim nos trazem apenas benefícios.
O preparo de um banho energético é um ato mágico, um ritual que deve ser feito com concentração e sempre bons pensamentos.
Ilumine seu anjo de guarda, ore pela finalidade a qual você vai preparar seu banho e mantenha sua mente livre de pensamentos negativos e prejudiciais ao seu objetivo.
Antes dos banhos energéticos, sempre tome seu banho higiênico normalmente.Antes de tomar um banho de ervas, informe-se com um sacerdote da sua denominação espiritual, pois, algumas ervas não são compatíveis com filhos de determinados Orixás.
A Sabedoria da morte e da advinhação
Como toda religião , o candomblé tem sua maneira própria de encarar a morte. Segundo a crença, a alma vive no Orum, que corresponde, mais ou menos, ao céu dos católicos. Ela é imortal e faz várias passagens do Orum para a vida terrena. Cada um tem controle sobre essas viagens: quem tem uma boa experiência em vida, pode escolher um destino melhor, na vinda seguinte.
Aqui na Terra, nada que se refira aos deuses e ao futuro pode ser dito sem a consulta ao Ifá, ou seja o jogo de búzios, conchas usadas como oráculo. O Ifá revela o orixá de cada um e orienta na solução de problemas.
O jogo usa dois caminhos: a aritmética e a intuição. Pela aritmética, é contado o número de conchas, abertas ou fechadas, combinadas duas a duas. Para interpretar todas as combinações possíveis dos búzios, o pai-de-santo conhece de cor 256 lendas que traduzem as mensagens dos deuses. Isso não é nada raro no candomblé, onde nada é escrito. Toda a sabedoria é transmitida oralmente.
No outro sistema de adivinhação, o intuitivo, o pai-de-santo estuda a posição dos búzios em relação a outros elementos na mesa, como uma moeda ou um copo d'água. Se o búzio cai perto da moeda, por exemplo, pode indicar que não há problemas com dinheiro. Mas é preciso estar preparado: os orixás vão cobrar pela consulta uma obrigação. Mãe Kutu, que foi formada pela Casa Branca e está montando seu próprio terreiro, diz: Se não vai fazer a obrigação, é melhor nem perguntar aos búzios.
domingo, 22 de junho de 2008
Tumba Jussara,minha homenagem e respeito
Maria Genoveva do Bonfim - Maria Nenem - Digina Mametú Tuenda UnZambi
O Tumba Junçara foi transferido para Pitanga, no mesmo município, e depois para o Beiru. Após algum tempo, foi novamente transferido, para a Ladeira do Pepino nº 70, e finalmente para Ladeira da Vila América, nº 2, Travessa nº 30, Avenida Vasco da Gama (que hoje se chama Vila Colombina) nº 30 - Vasco da Gama, Salvador, Bahia.
Na época da fundação, os dois irmãos de esteira receberam de Sinhá Maria Nenem os cargos de Tata Kimbanda Kambambe e Tata Ludyamungongo. Manoel Ciriaco de Jesus fez muitas lideranças de várias casas, como Emiliana do Terreiro do Bogum, Mãe Menininha do Gantois, Ilê Babá Agboulá (Amoreiras), onde obteve cargos. Tata Nlundi ia Mungongo teve como seu primeiro filho de santo (rianga) Ricardino, cuja dijina era Angorense.
No primeiro barco (recolhimento) de Tata Nlundi ia Mungongo, foram iniciados 06 azenza (plural de muzenza). Em sendo o seu primeiro barco, ele chamou o pessoal do Bogum para ajudar. Os 03 primeiros azenza do barco foram iniciados segundo os fundamentos do Bogun: Angorense (Mukisi Hongolo), Nanansi (Mukisi Nzumba) e Jijau (Mukisi Kavungu), os 03 outros azenza foram iniciados segundo os fundamentos do Tumba Junçara.
No Rio de Janeiro, fundou, com o Sr. Deoclecio (dijina: Luemim), uma casa de culto em Vilar dos Teles (não se sabe a data da fundação nem a relação de pessoas iniciadas). Dentre as pessoas iniciadas, ainda existe, na Rua do Carmo, 34, Vilar dos Teles, uma delas, Tata Talagy, filho de Sr. Deoclecio .
Com a morte de Manoel Rodrigues do Nascimento (Kambambe), que assumira sozinho a direção do Tumba Junçara, Manoel Ciriaco de Jesus (Ludyamungongo) assumiu a direção até sua morte, a qual ocorreu em 4 de dezembro de 1965.
Com a morte de Manoel Ciriaco de Jesus (Ludyamungongo), assumiu a direção do Tumba Junçara a Sra. Maria José de Jesus (Deré Lubidí), que foi responsável pelo ritual denominado Ntambi de Ciriaco, juntamente com o sr. Narciso Oliveira (Tata Senzala) e o sr. Nilton Marofá.
Deré Lubidí era Mam'etu Riá N'Kisi do Ntumbensara, hoje situado à Rua Alto do Genipapeiro - Plataforma, Salvador, Bahia, e de responsabilidade do sr. Antonio Messias (Kajaungongo).
Em 13 de dezembro de 1965, após o ritual de Ntambi, Maria José de Jesus (Deré Lubidí) passa a direção do Ntumbensara para Benedito Duarte (Tata Nzambangô) e Gregório da Cruz (Tata Lemboracimbe), e em ato secreto é empossada Mam'etu Riá N'Kisi do Tumba Junçara.
Maria José de Jesus (Deré Lubidí), em 1924 recebeu o cargo de Kota Kamukenge do Tumba Junçara, e em 1932, o cargo de Mam'etu Riá N'Kisi. Em 1953 fundou o Ntumbensara, na Rua José Pititinga nº 10 - Cosme de Farias, Salvador, Bahia, que em 18 de outubro de 1964 foi transferido para o Alto do Genipapeiro.
Com o falecimento de Deré Lubidí, assumiu a direção do Tumba Junçara a Sra. Iraildes Maria da Cunha (Mesoeji), nascida aos 26 de junho de 1953 e iniciada em 15 de novembro de 1953, permanecendo no cargo até o presente momento.
Esta é uma síntese do histórico do Tumba Junçara, com agradecimento especial a Esmeraldo Emeterio de Santana Filho, "Tata Zingue Lunbondo", pelo referente histórico, e também a "Tata Quandiamdembu", Esmeraldo Emetério de Santana, o Sr. Benzinho, pois sem sua colaboração não poderíamos ter chegado a tais fatos.
Zumbi dos Palmares
Zumbi dos Palmares nasceu no estado de Alagoas no ano de 1655. Foi um dos principais representantes da resistência negra à escravidão na época do Brasil Colonial. Foi líder do Quilombo dos Palmares, comunidade livre formada por escravos fugitivos das fazendas. O Quilombo dos Palmares estava localizado na região da Serra da Barriga, que, atualmente, faz parte do município de União dos Palmares (Alagoas). Na época em que Zumbi era líder, o Quilombo dos Palmares alcançou uma população de aproximadamente trinta mil habitantes. Nos quilombos, os negros viviam livres, de acordo com sua cultura, produzindo tudo o que precisavam para viver.Embora tenha nascido livre, foi capturado quando tinha por volta de sete anos de idade. Entregue a um padre católico, recebeu o batismo e ganhou o nome de Francisco. Aprendeu a língua portuguesa e a religião católica, chegando a ajudar o padre na celebração da missa. Porém, aos 15 anos de idade, voltou para viver no quilombo.No ano de 1675, o quilombo é atacado por soldados portugueses. Zumbi ajuda na defesa e destaca-se como um grande guerreiro. Após uma batalha sangrenta, os soldados portugueses são obrigados a retirar-se para a cidade de Recife. Três anos após, o governador da província de Pernambuco aproxima-se do líder Ganga Zumba para tentar um acordo, Zumbi coloca-se contra o acordo, pois não admitia a liberdade dos quilombolas, enquanto os negros das fazendas continuariam aprisionados. Em 1680, com 25 anos de idade, Zumbi torna-se líder do quilombo dos Palmares, comandando a resistência contra as topas do governo. Durante seu “governo” a comunidade cresce e se fortalece, obtendo várias vitórias contra os soldados portugueses. O líder Zumbi mostra grande habilidade no planejamento e organização do quilombo, além de coragem e conhecimentos militares. O bandeirante Domingos Jorge Velho organiza, no ano de 1694, um grande ataque ao Quilombo dos Palmares. Após uma intensa batalha, Macaco, a sede do quilombo, é totalmente destruída. Ferido, Zumbi consegue fugir, porém é traído por um antigo companheiro e entregue as tropas do bandeirante. Aos 40 anos de idade, foi degolado em 20 de novembro de 1695. Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, lutou pela liberdade de culto, religião e pratica da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra
Terreiros de Candomblé é patrimônio histórico e cultural
Os beneficiados
Os terreiros beneficiados são os seguintes: Bate Folhinha (Manso Banduquemquim N´Saba), Caboclo Catimboiá, Casa Branca do Engenho Velho, Casa dos Olhos do Tempo que Fala da Nação Angolão Paquetan, Ilê Axé Obá Tadê Patiti Oba, Ilê Axé Oiô Bomin, Ilê Axé Abassá de Ogum, Ilê Axé de Oya, Ilê Axé Giocan, Ilê Axé Jitolu, Ilê Axé Kalé Bokum, Ilê Axé Karé Lewi, Ilê Axé Maroiá Laji (Alaketu), Ilê Axé Maroketu, Ilê Axé Oba Fé Konfé Olorum (Casa de Maria de Xangô), Ilê Axé Obá Ynã, Ilê Axé Obanirê, Ilê Axé Odé Mirin, Ilê Axé Odé Tolá, Ilê Axé Olorum Oyá, Ilê Axé Olunfã Anassidé Omim, Ilê Axé Omin Funjê Loiassi, Ilê Axé Omin J'obá, Ilê Axé Omo Ewa, Ilê Axé Oninjá, Ilê Axé Opô Afonjá, Ilê Axé Oxumaré, Ilê Axé Oyá, Ilê Axé Oyá Deji, Ilê Axé Oyá Leci, Ilê Axé Oyá Tunjá, Ilê Axé Oyassiabadê, Ilê Axé Togum, Ilê Axé Yji Ati Oya, Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê (Terreiro do Gantois), Ilê Obá do Cobre, Ladê Padê Omin, Manso Dandalunga Cocuazenza, Mansubamdu Kuêkuê Doinkuabebe, Mocambo - Unzu Ngunzo Dandalunga Ye Tempo, Ninfa Omim, Nzo Kwa Mpaanzu, Ogum Kariri Com Iansã, Oxalá (Babakan Alafin), Oxossi Mutalambo, Senzala Religiosa Mukunndewá, Sogboadã (Guerebetã Jume Sogboadã), Terreiro de Ogunjá,Tumba Jussara, Unzo de Angorô, Unzó Indebwa Kaamumzambi, Unzo Ngonzo Kwa Kayongo, Unzo Tumbancé, Vintém de Prata, Yaominide.
Sem música, não existe cerimônia
Tudo acontece sob a batida de três atabaques
Os três atabaques que fazem soar o toque durante o ritual também são responsáveis pela convocação dos deuses.
O rum funciona como solista, marcando os passos da dança. Os outros dois, o rumpi e o lé, reforçam a marcação, reproduzindo as modulações da língua africana iorubá uma língua cantada, como o sotaque baiano. Além dos atabaques, usam-se também o agogô e o xequerê.
São, ao todo, mais de quinze ritmos diferentes. Cada casa-de-santo tem até 500 cânticos. Segundo a fé dos praticantes, os versos e as frases rítmicas, repetidos incansavelmente, têm o poder de captar o mundo sobrenatural. Essa música sagrada só sai dos terreiros na época do carnaval, levada por grupos e blocos de rua, principalmente em Salvador, como Olodum ou Filhos de Gandhi .
Orixas é amor
Oxalá criou o mar
Oxalá criou o mundo
Onde reina os orixás
A pedra deu pra Xangô
Meu pai Rei e justiceiro
As matas deu à Oxossi
Caçador velho guerreiro
Grandes campos de batalha
Deu pra seu Ogum guerreiro
Campinas, Pai Oxalá
Deu para seu boiadeiro.
Mar com pescaria farta
Ele deu pra Iemanjá
Os rios deu pra Oxum
Os ventos para Oyá
Jardins com lindos gramados
Deram pras crianças brincar
Oxalá criou o mundo
Onde reina os Orixás
O poço deu pra Nanã
A mais velha Orixá
E o cruzeiro bendito
Deu pras almas trabalhar
Finalmente deu as ruas
Com estrelas e luar
Pra Exu e pombogira
Nossos caminhos guardar.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Dia 20 de novembro Axé Zumbi,o meu e o teu dia!
Dia 20 de Novembro-Dia Nacional da Consciência Negra-Morte do nosso ancestral histórico, guerreiro, Zumbi dos Palmares. A Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde diz Não ao racismo, ao racismo institucional, ao racismo na saúde.
Negar e dificultar o acesso aos serviços de Saúde é violar nossos direitos. Direitos Humanos garantidos por lei. É nesse sentido que a Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde está lutando para, cada vez mais, construir Políticas Públicas que garantam a qualidade no atendimento à Saúde da População Negra e à Saúde da população de terreiro.
Sendo o nosso corpo a morada dos nossos Orixás, precisamos dele o mais saudável possível.
AXÉ!
Valeu Zumbi e a nossa Luta continua!
"Zumbi, comandante guerreiro! Ogunhê, ferreiro-mor capitão da capitania da minha cabeça. Mandai a alforria pro meu coração"
A Natureza do Racismo
A NATUREZA DO RACISMO. Organização das Nações Unidas ONU
Para os propósitos da III Conferência Mundial Contra o Racismo, o racismo está configurado de acordo com o a Convenção Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial e acontece conforme a seguir:
“Racismo fica definido em qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência, ou origens étnicas ou nacionais que tenham o propósito ou efeito de anular ou impedir o reconhecimento, gozo ou exercício, em condições iguais, de direitos humanos e liberdades fundamentais nas áreas política, econômica, social, cultural ou qualquer outra da vida pública”.
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Ritmos e Repertórios (conclusão)
A música ritual do candomblé, tanto em cerimônias públicas quanto privadas, ultrapassa o valor meramente estético, ou mesmo de elemento propiciador à atmosfera religiosa, para exercer a função de elemento constitutivo em todas as instâncias do culto. Além disso, ela tem funções de ordenação bastante claras, sendo também um dos elementos através dos quais as identidades dos adeptos e dos terreiros e "nações" são construídas e se expressam.
Não é sem motivo, como registra Nina Rodrigues em 1932, que os jornais do final do século passado pediam providências contra a atuação dos terreiros, chamando a atenção para os "estrondosos ruídos dos atabaques e dos chocalhos" e à "vozearia dos devotos" que perturbavam o "sossego" e o "silêncio público" com "vergonhosos espetáculos". O que demonstra a importância da percepção sonora pelos "de fora" na construção da imagem do candomblé. Percepção desagradável ou não conforme o contexto social e cultural mais amplo onde ela se dá. Assim, aos tempos de perseguição religiosa, quando a música do candomblé era tida como "estrondosos ruídos", seguiu-se um tempo de tolerância e um de valorização da musicalidade de origem africana em geral (jazz, blues, reggae, samba, gospell, spirituals) que, num processo dialético, contribuiu para a melhor compreensão tanto do candomblé quanto de sua estética musical.
Para os "de dentro", a música do candomblé não se prende tanto a um julgamento estético, na medida em que é uma linguagem, onde o que importa é o sentido que o som adquire enquanto emanação do sagrado. Assim, até mesmo o "ruído" dos búzios, chocalhando entre as mãos do pai-de-santo, pode ser entendido como a fala do deus da adivinhação que "escreverá" na peneira, com os búzios, as respostas às dúvidas do homem. Ou mesmo os rojões das "Fogueiras de Xangô" que refazem no céu o som do deus-trovão.
É claro que as religiões em geral têm a música como importante elemento de contato com o sagrado, seja no caso em que ela proporciona o contato mais íntimo com o eu, como é o caso dos mantras das religiões orientais, seja no caso em que sua função é a de integrar os indivíduos numa "única voz", como é o caso das religiões pentecostais, entre outras, em que os fiéis cantam em uníssono os hinos de louvação. O candomblé, entretanto, parece reunir estas duas dimensões: a do contato com o eu, através das divindades pessoais, e a do contato com o outro, estabelecidas musicalmente. Mas, ao contrário de outras religiões, no candomblé a música não é um momento entre os demais. Todos os momentos rituais são, em essência, musicais. Assim, para que os deuses estejam entre os homens ou para que estes ascendam aos deuses é preciso cantar; cantar para subir.
Este trabalho foi apresentado pela primeira vez em 1988, nos Seminários de Etnomusicologia, coordenados por Tiago Oliveira Pinto e Max B, no PPGAS/USP e publicado em 1992 na revista RELIGIÃO & SOCIEDADE n.16/2, ISER, Rio de Janeiro
Ritmos e Repertórios-A musica como elemento de identidade(3)
A adesão ao candomblé é um processo complexo, paulatino e que envolve um aprendizado minucioso de códigos religiosos que, é possível dizer, começa na iniciação. Tal aprendizado se dá no âmbito das relações do grupo do terreiro ou da comunidade do "povo-de-santo". É também regulado pelo tempo de iniciação que, alocando o iniciado dentro de uma estrutura hierárquica precisa, delimita posições e papéis. Assim, a inserção do indivíduo na comunidade vai sendo feita através da acumulação dos fundamentos religiosos que estabelecem o tipo de relação do indivíduo com seu deus e com os demais membros do culto.
Sendo a música uma das expressões desses fundamentos religiosos, ela também é parte significativa na formação da identidade, tanto no nível individual quanto grupal. Assim, um iniciado trará consigo um repertório musical pessoal, do qual fazem parte as cantigas que estão associadas aos momentos decisivos de sua experiência religiosa. Este repertório conterá a cantiga na qual ele bolou o adarrum para o recolhimento, as cantigas do bori, as que quebraram a mudez do recolhimento, as do amanhecer, do entardecer, da maionga, aquelas próprias de sua divindade e o próprio som do adjá que, acompanhando as rezas e as cantigas, se constituirão num forte apelo para propiciar o transe, revivendo a ligação estabelecida durante a iniciação.
Podemos dizer destas cantigas de situações rituais específicas que, embora sejam parte de um repertório comum a todos os iniciados do mesmo terreiro, sua apropriação por parte de cada indivíduo remete a conteúdos psicológicos diferenciados. Além disso, elas se somam a outras, como as de seu orixá, da "qualidade" deste, da "nação" à qual pertence etc. Como, por exemplo, a cantiga:
"Aê, Odé‚ arerê, okê
É orixá erô
Co ma fa Akuerã"
(rito ketu)
que saúda Odé‚ (o orixá Oxossi) na sua qualidade Akuerã.
Um exemplo de cantiga da "nação" ketu é esta que, ao ser executada faz com que todos reverenciem o chão, em sinal de respeito:
"Araketurê, araketurê
Ara mi mawó"
(rito ketu)
Aqui a referência é feita a Araketu, "gente de Ketu".
O próprio nome religioso do indivíduo (dijina) é freqüentemente inspirado por termos que compõem a letra destas cantigas, sendo possível identificarem, através da dijina, o orixá da pessoa. Exemplo: uma filha de Nanã pode ser chamada Nandarê, termo que aparece na seguinte cantiga de Nanã:
"Nana, nanjetu
Nanjetu, nandarê"
(rito ketu)
Filhas de Oxum podem ter seus nomes iniciados pela palavra Samba (Samba Diamongo, Samba Queuamázi, Samba Delecê), inspirado na cantiga:
"Samba, Samba monameta
Ke zina Ke cê
Ki samba â
Samba monameta
Ke sina ke cê
Ki samba"
(rito angola)
Além do repertório pessoal, o indivíduo participa, ainda, do repertório do grupo, que consiste nas cantigas do orixá do pai-de-santo, dos ebomis da casa como ogãs, ekedes, mãe-criadeira, irmãos de barco, enfim aquelas que, ao determinar a ordem das reverências (quem pede e quem dá a bênção) estabelecem a hierarquia do terreiro e localizam o indivíduo numa determinada posição. Existem, inclusive, cantigas próprias dos cargos da casa:
"Ê, ê, ekede zinguê
ekede zingá
Ê, ê ekede kissangá"
(rito angola)
Ou, do status religioso:
"Xique xique nu atopê
Ebomi nu caiangô"
(rito angola)
Além disso, a chegada de ebomis na casa também obriga a uma ligeira interrupção da música, para que os "couros" (atabaques) "dobrem" em homenagem ao recém-chegado.
Estando a música intimamente relacionada à condição hierárquica, até mesmo as pausas entre uma cantiga e outra revelam isto: a roda das iaôs deve agachar-se enquanto a roda dos ebomis permanece em pé. Ainda o paó (palmas ritmadas), com o qual se louvam os orixás e se reverenciam os ebomis, indica, musicalmente, a alta posição de quem o recebe. E mais, se considerarmos terreiros de ritos diferentes, poderemos ver que esta identidade contrastiva "localiza" os grupos por "nações" construindo-se, musicalmente conforme já vimos, através dos ritmos, do modo de tocar, das letras, das melodias, enfim do repertório que contempla cada panteão, associado, evidentemente, aos demais elementos do culto.
Ritmos e Repertórios (2)
No rito angola a referência não é feita ao ekodidé‚ e sim ao nascimento do orixá, através do termo vunge (criança):
"Saki di lazenza é maió
Ê vunge ke sá"
(rito angola)
Após entrar no barracão, ao som de uma destas cantigas, o orixá é levado para o centro do recinto por um ebomi que toca o adjá. Os atabaques e as pessoas silenciarão e apenas o adjá será ouvido até que o orixá grite seu nome. Neste momento, numa espécie de "resposta" todos os orixás "virarão", gritando seus "ilás" e os atabaques recomeçarão a tocar, agora ao ritmo acelerado da vamunha.
Assim, os vários matizes da música acompanham as várias etapas do rito, sublinhando-as e estimulando uma empatia entre a subjetividade dos ouvintes e os acontecimentos cerimoniais.
Finalmente, a "saída do rum", ou saída "rica", pode ser feita ao som dessas cantigas:
“È, aun bó, ke wa ô, ke wa jô"
(rito Ketu)
"Kin kin maô
Ko ro wa ni xé ô
Agô, agô lonã
Agô lonã didê wa agô"
(rito Ketu)
"A ki memensuê
Xibenganga
Da muximba dunda
Meu ketendo iô
Xibenganga"
(rito angola)
Após as quais o orixá dançará as cantigas que lhe são especialmente atribuídas, o que é chamado "dar o rum no orixá". Terminando o rum, o orixá será retirado do barracão ao som de uma cantiga também apropriada para este momento de despedida:
"Aê iaô
guerê nu pa me vô
Guerê nu se be wá"
(rito Ketu)
Todavia, esta cantiga é reservada à despedida dos orixás das iaôs, como mostra a letra. Os ebomis terão seus orixás "retirados" do barracão ao som de outra cantiga, que faz referência ao status religioso do iniciado:
"Ebomi la urê
Ebomi la urê
Aê, aê, aê
Ebomi la urê"
(rito Ketu)
Com relação à ordenação feita pela música no toque como um todo, vemos que é durante o xirê que ela se evidencia, pois além de uma estrutura seqüencial da ordem das louvações (através de cantigas), o xirê denota, também, a concepção cosmológica do grupo. Por exemplo: muitas casas de ketu costumam seguir esta ordenação de orixás: Exu (porque é o intermediário entre os homens e os orixás), Ogun (a seguir, porque é o dono dos caminhos e dos metais e sem ele e suas invenções da faca e da enxada o sacrifício aos orixás e o trabalho na terra estariam impedidos; diz-se, também que é irmão de Exu); Oxossi (porque é irmão de Ogun e porque está ligado à sobrevivência através da caça e da pesca), Obaluaê (porque é o orixá da cura das doenças ou aquele que as traz), Ossain (dono das folhas que curam, daí sua ligação a Obaluaê e também porque nada se faz sem folhas no candomblé), Oxumarê (por sua ligação com Xangô, como escravo deste e como aquele que faz a ligação entre o céu e a terra), Xangô (deus do trovão e do fogo, trazido por Oxumarê), Oxum (esposa favorita de Xangô), Logun-Edé (o filho de Oxum com Oxossi), Iansã (que no mito criou Logun-Edé quando Oxum o abandonou), Obá (tida em muitas casas como irmã de Iansã e terceira mulher de Xangô), Nanà (a mais velha das iabás), Iemanjá (a dona das cabeças e esposa de Oxalá) e, finalmente, Oxalá, o senhor de toda a criação.
Algumas casas, entretanto, seguem outra ordem: Ogun, Oxóssi e Ossain (são irmãos) Obaluaê, Ewá, Oxumarê e Nanã (três irmãos e sua mãe tidos como de "nação" jeje), Oxum, Logun-Edé, Iansã e Obá (pelos mesmos motivos da ordem anterior), Xangô e Iemanjá (filho e mãe) e, por fim, Oxalá. Esta seqüência parece privilegiar os vínculos de parentesco e de "nação", enquanto a primeira privilegia os acontecimentos míticos que colocam em relação os orixás. Seja qual for a seqüência e sua concepção cosmológica, ela costuma ser fixa para cada casa. É ela que, de alguma forma norteia os acontecimentos do toque, fazendo, entre outras coisas, com que os adeptos observem, através das músicas, os momentos apropriados ao cumprimento da etiqueta religiosa como, por exemplo, pedir a bênção ao pai-de-santo quando se toca para o orixá deste.
Num toque comum, é costume cantarem-se de três a sete cantigas para cada orixá. Entretanto, em alguns casos, é possível que os ogãs, ou o pai-de-santo, cantem uma "roda de Xangô", que consiste em "puxar" (cantar) uma seqüência pré-estabelecida de cantigas deste orixá. Neste caso, é comum que o pai-de-santo entregue aos ebomis de Xangô o xere, que estes deverão tocar, provocando a vinda dos orixás de todos os filhos. Os abiãs costumam bolar neste momento e ficarão no chão até que seja possível tocar a vamunha para retirá-los. Em outros casos os orixás "viram" durante o transcorrer do xirê, seja em sua cantiga ou em qualquer outro momento do toque.
Cantando para Exu, o toque começa pelo padê, como já dissemos e, geralmente, com esta cantiga:
"Embarabó, agô mojubá
Embarabó, agô mojubá
Omodé coecó
Exu Marabó, agô mojubá
Lebara Exu onã”
(rito Ketu)
No rito angola, estas três cantigas são sempre cantadas dando início ao padê e na seguinte ordem:
(1a)
"Ê gira gira mavambo
Recompenso ê ê ê
Recompenso a"
(2a)
“Exu apavenã”.
Exu apavenã
Sua morada auê"
(3a)
"Bombogira ke ja ku janje
Bombogira ja ku janjê
Airá o lê lê"
(rito angola)
Ou, ainda, fazendo uma clara alusão ao convite para aceitar a oferenda, que caracteriza a cerimônia:
"Aluvaiá vem tomá xoxô
Aluvaiá vem tomá xoxô"
(rito angola)
Ou ainda:
"Sai-te daqui Aluvaiá
Que aqui não é o teu lugar
Aqui é uma casa santa
É casa dos orixás"
(rito angola)
Encerrado o padê, as cantigas devem acompanhar as próximas etapas, ainda propiciatórias ao bom andamento do toque. No rito angola segue-se à "limpeza" do ambiente com pemba (pó de giz branco) ou ainda pólvora:
"O kipembê,
o kipembe ewiza
kassange ewiza
d'angola
o kipembê
samba d'angola"
(rito angola)
"Pemba eu akassange apogondê
Pemba eu akassange apogondê
Pemba eu akassange apogondê
Oi kipembê"
(rito angola)
No rito ketu a cerimônia da pemba e da pólvora não ocorre. Em algumas casas, em lugar dela procede-se à cerimônia dos cumprimentos, quando se canta uma das seguintes cantigas:
"Olorum pa vô dô
Axé‚ ori, axé, orixá"
(rito ketu)
"(orixá) mojubá ô
Ibá orixá, ibá onilê"
(rito ketu)
No caso da segunda cantiga, será trocado o nome do orixá conforme o patrono da casa.
Daí por diante a música prossegue dividindo o "tempo" do toque em segmentos precisos, de convergência das louvações a cada orixá, da dança, das atitudes de maior ou menor empatia dos participantes, enfim, em "blocos" que, somados, recompõem a "vida" dos orixás na voz de seus filhos. Assim, é comum ouvirmos referências ao andamento do toque em termos do "tempo musical" do xirê: "Fulano chegou atrasado. O toque já estava em Iemanjá".
Quando o motivo do toque é uma festa, essa festa é intercalada na estrutura do xirê, ou seja, é costume levar o xirê até o momento em que se canta para o orixá festejado, quando este "vira" e é levado para vestir, ao som da vamunha. Pode haver (ou não) um intervalo para o descanso dos alabês, até que o orixá volte agora paramentado, sendo recebido com a cantiga:
"Agô, agô lonã
Agô lonã didê wa mo dagô"
(rito ketu)
"Toté, toté de maiongá
Maiongonguê"
(rito angola)
No barracão, o orixá dançará, então, ao som de seus ritmos favoritos. Uma vez encerrados os acontecimentos relacionados à comemoração, a seqüência do xirê é imediatamente retomada do exato ponto onde havia sido interrompido, devendo-se cantar para Oxalá apenas quando não estiver prevista mais nenhuma cerimônia, pois, cantar para Oxalá significa "fechar o toque".
Encerrado o xirê, segue-se o ajeum (refeição), apresentado com a cantiga:
"Ajeun, ajeun, ajeun, ajeun bó"
(rito ketu)
Findo o toque, de modo significativo, os atabaques são cobertos por um pano branco, indicando que o fim da música é o fim da festa e que, sendo os atabaques criadores e sacralizadores da música, mesmo durante os momentos em que não são usados devem indicar esta condição, permanecendo sob a proteção de Oxalá.
Ritmos e Repertórios
A música ritual do candomblé costuma ser chamada de "toada" ou "cantiga", sendo este o termo mais usado em São Paulo, atualmente.
"Em candomblé a gente não chama "música". Música é um nome vulgar, todo mundo fala. É um... como se fosse um orô (reza)... uma cantiga pro santo".
Aqui, entenderemos "cantiga" como um poema musicado, ou seja, a sobreposição de letra a melodia. Desse modo podemos classificar as cantigas em dois grupos principais: aquelas destinadas às cerimônias privadas (de roncó), cuja letra (em português ou fragmentos de línguas africanas) alude às etapas do rito e aquelas das cerimônias públicas (de barracão), cuja distinção em relação às primeiras se dá pela referência aos mitos e pela presença do ritmo, executado pelos atabaques. Entretanto, as mesmas cantigas cantadas no barracão podem, por vezes, serem ouvidas no "roncó", sem o ritmo característico. Nos candomblés ao tempo de Arthur Ramos (1934:163), contudo, o ritmo acompanhava as cerimônias privadas.
A presença do ritmo no barracão parece estar associada à dança, que rememora os atributos míticos das divindades. Desse modo, um deus guerreiro, como Ogun, estabelece uma coreografia na qual os movimentos serão ágeis, rápidos e vigorosos, adequando-se ao ritmo executado, diferentemente dos passos lentos, fluidos e ondulantes de Oxum, uma deusa das águas.
"Eu vejo a música como a. representação de expressar a dança do orixá, o preceito, o que ele faz como ele vive... Como se fosse eu falando da minha vida ou cantando alguma coisa para ele."
Assim, com seus ritmos característicos, cada orixá expressa, na linguagem musical e gestual, suas particularidades, criando uma atmosfera na quais estas se tornam inteligíveis e plenas de sentido religioso. Daí poder falar dos ritmos mais freqüentes no candomblé em termos do que representam e de sua relação com as entidades às quais homenageiam.
O adarrum é o ritmo mais citado como característico de Ogun. É um ritmo "quente", rápido e contínuo, que pode ser executado sem canto, ou seja, apenas pelos atabaques. Pode, também, ser executado com o objetivo de propiciar o transe. O toque de bolar, por exemplo, se faz ao som do adarrum.
O aguerê é o ritmo de Oxóssi. É acelerado, cadenciado e exige agilidade na dança, do mesmo modo que a caça exige a agilidade do caçador. O ritmo de Obaluaê é o opanijé, um ritmo pesado, "quebrado" (por pausas) e lento. Este ritmo lembra a circunspeção deste deus das epidemias, ligado à terra.
O bravum, embora não seja atribuído especialmente a algum orixá, é freqüentemente escolhido para saudar Oxumarê, Ewá e Oxalá. É um ritmo relativamente rápido, bem dobrado e repicado. A dança preferida de Xangô se faz ao som do alujá, um ritmo quente, rápido, que expressa força e realeza recordando, através do dobrar vigoroso do Rum, os trovões dos qual Xangô é o senhor.
Ijexá, o único ritmo tocado com as mãos no rito Ketu é, por excelência, o ritmo de Oxum. É um ritmo calmo, balanceado, envolvente e sensual, como a deusa da água doce, à qual faz alusão. Ele é tocado ainda para o orixá filho de Oxum, Logun-Edé e, algumas vezes para Exu e para Oxalá.
Para Iansã, divindade dos raios e dos ventos toca-se o agó, ilu, ou aguerê de Iansã, termos que designam um mesmo ritmo que, de tão rápido, repicado e dobrado, também é conhecido como "quebra-prato". É o mais rápido ritmo do candomblé, correspondendo à personalidade agitada, contagiante e sensual desta deusa guerreira, senhora dos ventos e que tem poder de afastar os espíritos dos mortos (eguns).
Sató, um ritmo vagaroso e pesado, é geralmente tocado para Nanã, considerada a anciã das iabás (orixás femininos).
O batá, talvez um dos ritmos mais característicos do candomblé, pode ser tocado em duas modalidades: batá lento e batá rápido, sendo o primeiro executado para os orixás cuja dança comedida denotam certas características de suas personalidades, como a dança de Oxalufã, o deus arcado e velho que, com seu paxorô (cajado), criou o mundo. Significativamente, o termo batá, designa também o tambor de duas membranas, afinadas por cordas, cujo uso nos candomblés do Norte e Nordeste do Brasil é tão difundido que talvez por este motivo o ritmo tenha tomado seu nome, ainda quando não executado por este instrumento.
Vamunha é um outro ritmo, também conhecido por: ramonha, vamonha, avamunha, avania ou avaninha, tocado para todos os orixás. É um toque rápido, empolgado e tocado em situações específicas como a entrada e saída dos filhos de santo no barracão e para a retirada do orixá incorporado. É nesse momento que o orixá saúda os pontos de axé da casa e se retira sob a aclamação dos presentes.
Todos os toques (ritmos) acima são característicos do rito Ketu e, conforme procuramos demonstrar, associa letra, melodia e dança que, integrados, "narram" a experiência arquetípica dos orixás, vividas em nível individual e grupal e cujo ápice é o transe. Alguns destes ritmos são tão personalizados dos orixás que podem dispensar as letras ou mesmo a dança como elemento de identificação. É o caso do alujá, do opanijé e do agó (quebra-prato), consagrados a Xangô, Obaluaê e Iansã, respectivamente.
No rito Angola, o repertório rítmico é composto por três polirritmos básicos e algumas variações sobre estes. São eles: cabula congo e barravento (do qual a variação mais conhecida é a muzenza). Todos são ritmos rápidos, bem "dobrados", repicados e tocados "na mão" (sem varinha). De modo geral, todas as divindades podem ser louvadas com cânticos ao som de qualquer dos três: sejam os orixás, inkices, ou aquelas tidas como originárias dos cultos ameríndios (caboclos índios e boiadeiros). A própria aceitação dos elementos nacionais sobrepostos às influências africanas no candomblé angola é perceptível, principalmente pelas letras das cantigas, cantadas em português e mescladas aos fragmentos das línguas "bantu". No Ketu a tolerância ao português é mais restrita e as casas de Ketu que cultuam caboclos estabelecem uma "mediação" que intercala, na ordem do xirê, o toque dos caboclos. Assim, para que o "xirê Ketu" possa abrigar as toadas de caboclo é preciso que ocorra uma "transição musical", na qual o toque "vira para Caboclo”, não sem antes serem cantadas algumas cantigas de angola como este ingorossi (reza):
"Sequecê di quan Dandalunda
Sequecê di quando eu andá...“.
(rito angola)
Desse modo, vemos como os repertórios musicais referendam as sobreposições dos modelos angola e ketu, sendo um dos elementos principais para sua afirmação e identificação. No caso do candomblé angola, é inegável que um repertório cuja letra permite associações com palavras em português, estabeleça uma comunicação muito mais direta e fácil, inclusive entre a divindade e o interlocutor, tornando-se mais "inteligível" e mais facilmente memorizável . Eis um exemplo:
"Fala mameto caiangô
Kicongo quando come
Lemba di lê “.
(cantiga de Obaluaê - rito Angola)
"Aê seu kafunã
Omulu que belo ojá
Aê aê seu Kafunã"
(idem)
O mesmo acontece com as toadas ou "salvas" de caboclo (cantiga com que o caboclo se apresenta), cujas letras costumam ser em português e relatam acontecimentos relacionados a sua "vida" mítica, entre outras coisas. Como esta:
"Eu vinha pelo rio de contas
Caminhando por aquela rua
Olha que beleza!
Sou boiadeiro do clarão da lua"
Ou ainda esta outra:
"Campestre verde, ó meu Jesus (bis)
Madalena chorava aos pés da cruz
Com sete dias, minha mãe me deixou (bis)
Me deixou numa clareira, Ossanha que me criou"
Nesse sentido, os ritmos angola compartilham um repertório musical muito mais próximo do modelo de música popular brasileira, dentro da qual o samba é a principal expressão. Não é de se estranhar que um toque de angola seja também chamado de "samba de angola", fazendo referência não apenas à semelhança dos ritmos, mas também à alegria e descontração da dança. Ao contrário da coreografia Ketu, caracterizada pelas particularidades do orixá e conduzida pelo ritmo, no angola um número bem menor de variações rítmicas admite um leque maior de danças, incluindo a dos caboclos, que dançam com maior inventividade. Por outro lado, alguns ritmos podem caracterizar situações rituais precisas, que terminam por eles sendo denominadas. É o caso do "barravento" que, sendo um toque rápido e propiciatório ao transe (e, portanto semelhante ao adarrum no Ketu), acaba denominando os movimentos que prenunciam o transe. Também o ritmo muzenza (uma "variação" do "barravento") pode designar a dança, curvada, característica da primeira saída pública de iniciação no angola, também chamada de "saída de muzenza", símbolo da humildade do iniciado.
AYÉ - conjunto das forças do bem e do mal
Homenagem de Carmen à Carmen
Feiticeiro Negro
Para mim tu és Gabriel o enviado dos seres encantados que veio à terra no seio da minha família fortalecer o amor e a espiritualidade em nossos caminhos.Amor mágico de sorriso encantado obrigado por alegrar os dias e noites dessa minha existência tú és fruto do meu fruto e abençoado sejas sempre.ti amo bjs mágicos